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Marcio Mazza
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import random |
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import re |
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from collections import defaultdict |
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from string import digits |
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from django.apps import apps |
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from django.db.models.fields import CharField, TextField |
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from materia.models import Orgao, Origem |
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from norma.models import AssuntoNorma |
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from parlamentares.models import Municipio, NivelInstrucao, Partido |
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from sapl.settings import SAPL_APPS |
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sapl_appconfs = [apps.get_app_config(n) for n in SAPL_APPS] |
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models = [model for app in sapl_appconfs for model in app.get_models()] |
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excluidos = Origem, Orgao, AssuntoNorma, Partido, NivelInstrucao, Municipio, |
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models = [m for m in models |
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if 'tipo' not in m._meta.model_name and |
|||
'cargo' not in m._meta.model_name and |
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'status' not in m._meta.model_name and |
|||
m not in excluidos and |
|||
m._meta.app_label not in ['compilacao', 'base']] |
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nomes = [n.strip() for n in open('nomes.txt').readlines()] |
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conteudo = open('paragrafos.txt').read() |
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pars_list = [p.replace('"', '') for p in re.split('\n\n+', conteudo.strip())] |
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pars = defaultdict(list) |
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for p in pars_list: |
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pars[round(len(p) / 10)].append(p) |
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pars = dict(pars) |
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def change_digits(val): |
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return ''.join(random.choice(digits) if a in digits else a for a in val) |
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def random_text(val): |
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if not val or not val.strip(): |
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return val |
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subpars = pars[min(pars.keys(), |
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key=lambda x: abs(x - round(len(val) / 10)))] |
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return random.choice(subpars) |
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def stub(f, obj): |
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val = getattr(obj, f.name) |
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if isinstance(f, CharField): |
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if 'mail' in f.name: |
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return 'bla@bla.com' |
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elif 'nome' in f.name: |
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limite = f.max_length or 100000000 |
|||
return random.choice(nomes)[:limite] |
|||
elif f.choices: |
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return val |
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else: |
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return change_digits(val) |
|||
if isinstance(f, TextField): |
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return random_text(val) |
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return val |
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def anon(model): |
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print('--------- %s ---------' % model) |
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for obj in model.objects.all(): |
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for f in model._meta.fields: |
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setattr(obj, f.name, stub(f, obj)) |
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obj.save() |
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def anon_todos(): |
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for m in models: |
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anon(m) |
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Marquês de Paraná |
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Eusébio de Queirós |
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Barão de Mauá |
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José Clemente Pereira |
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Visconde de Uruguai |
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Visconde de Abaeté |
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Marquês de Olinda |
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Visconde de Itaboraí |
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Marquês de Monte Alegre |
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Marquês de Caxias |
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Marquês de Abrantes |
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Conde de Irajá |
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Bernardo de Sousa Franco |
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Cândido Batista de Oliveira |
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Marquês de Valença |
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Visconde de Maranguape |
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Visconde de Sapucaí |
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Visconde de Cairu |
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José Bonifácio de Andrada e Silva |
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Visconde de Caravelas |
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D. Pedro II |
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Luís Pedreira do Couto Ferraz |
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José Maria da Silva Paranhos |
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Gabriel José Rodrigues dos Santos |
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Barão de Iguaraçu |
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Marquês de Baependi |
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José Martiniano de Alencar |
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Evaristo Ferreira da Veiga |
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A. C. R. de Andrada Machado e Silva |
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João da Silva Carrão |
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Conde de Santa Cruz, Arcebispo da Bahia |
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Fr. Francisco do Monte Alverne |
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Jerônimo Francisco Coelho |
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Francisco de Lima e Silva |
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Visconde do Rio Bonito |
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Nicolau Pereira de Campos Vergueiro |
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Bernardo Pereira de Vasconcelos |
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Francisco Diogo Pereira de Vasconcelos |
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Sérgio Teixeira de Macedo |
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Manuel Felizardo de Sousa e Melo |
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José Tomás Nabuco de Araújo |
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Januário da Cunha Barbosa |
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Marquês de Paranaguá |
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Bispo de Anemúria |
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Teresa Cristina Maria |
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Pedro de Alcântara Bellegarde |
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Martim Francisco Ribeiro de Andrada |
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Inácio Marcondes de Oliveira Cabral |
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Dom Pedro I |
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João Crisóstomo Calado |
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Marquês de Inhambupe |
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José Antônio Saraiva |
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Marquês de Barbacena |
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Barão de Caçapava |
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José Pinheiro de Vasconcelos |
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Sebastião do Rego Barros |
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Miguel de Frias e Vasconcelos |
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Visconde de Jequitinhonha |
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João Paulo dos Santos Barreto |
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Marquês de Caravelas |
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Marquês de Lajes |
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Marquês de Maricá |
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D. Isabel e D. Leopoldina |
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Visconde de S. Leopoldo |
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Rafael Tobias de Aguiar |
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Barão de Muritiba |
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Pedro Ferreira de Oliveira |
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João Manuel Pereira da Silva |
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Marquês de S. João de Palma |
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José Joaquim da Rocha |
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José Inácio Silveira da Mota |
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Alexandre Joaquim de Siqueira |
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José Maria da Silva Bitancourt |
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Francisco Gomes de Campos |
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Joaquim Marcelino de Brito |
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Diogo Antônio Feijó |
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José Antônio Marinho |
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Ângelo Moniz da Silva Ferraz |
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Francisco de Paula Sousa e Melo |
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Barão da Vitória |
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Joaquim José Inácio |
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Barão de Sumi |
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Visconde de Pedra Branca |
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D. Manuel de Assis Mascarenhas |
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José Bento Leite Ferreira de Melo |
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Teófilo Benedito Otoni |
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D. Manuel Joaquim da Silveira |
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Visconde de Sepetiba |
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Francisco de Paula Negreiros Saião Lobato |
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"O coração, se pudesse pensar, pararia." |
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"Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do |
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abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma |
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prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, |
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porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao |
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que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao |
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que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até |
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mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e |
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canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero. |
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Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que |
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me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro |
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dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se |
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não o lerem, nem se entretiverem, será bem também." |
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"Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como |
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sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a |
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substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de |
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milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança |
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sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo |
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mais porque vivo maior." |
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"Prefiro o Vasques homem meu patrão, que é mais tratável, nas horas difíceis, que todos os |
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patrões abstractos do mundo." |
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"Tenho ternura, ternura até às lágrimas, pelos meus livros de outros em que escrituro, pelo |
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tinteiro velho de que me sirvo, pelas costas dobradas do Sérgio, que faz guias de remessa um |
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pouco para além de mim. Tenho amor a isto, talvez porque não tenha mais nada que amar ou talvez, também, porque nada valha o amor de uma alma, e, se temos por sentimento que o |
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dar, tanto vale dá-lo ao pequeno aspecto do meu tinteiro como à grande indiferença das |
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estrelas." |
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"Vejo-o [o patrão Vasques], vejo os seus gestos de vagar enérgico, os seus olhos a pensar para |
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dentro coisas de fora, recebo a perturbação da sua ocasião em que lhe não agrado, e a minha |
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alma alegra-se com o seu sorriso, um sorriso amplo e humano, como o aplauso de uma |
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multidão." |
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"Ah, compreendo! O patrão Vasques é a Vida. A Vida, monótona e necessária, mandante e |
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desconhecida. Este homem banal representa a banalidade da Vida. Ele é tudo para mim, por |
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fora, porque a Vida é tudo para mim por fora. |
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E, se o escritório da Rua dos Douradores representa para mim a vida, este meu segundo |
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andar, onde moro, na mesma Rua dos Douradores, representa para mim a Arte. Sim, a Arte, |
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que mora na mesma rua que a Vida, porém num lugar diferente, a Arte que alivia da vida |
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sem aliviar de viver, que é tão monótona como a mesma vida, mas só em lugar diferente. Sim, |
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esta Rua dos Douradores compreende para mim todo o sentido das coisas, a solução de todos |
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os enigmas, salvo o existirem enigmas, que é o que não pode ter solução." |
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"Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos |
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gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; |
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mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi |
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a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas |
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vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me |
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respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com |
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que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a |
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narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos |
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siameses que não estão pegados." |
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"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem |
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importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto." |
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"De resto, com que posso contar comigo? Uma acuidade horrível das sensações, e a |
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compreensão profunda de estar sentindo...Uma inteligência aguda para me destruir, e um |
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poder de sonho sôfrego de me entreter...Uma vontade morta e uma reflexão que a embala, |
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como a um filho vivo..." |
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"Tenho fome da extensão do tempo, e quero ser eu sem condições." |
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"Uns governam o mundo, outros são o mundo." |
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"Há em olhos humanos, ainda que litográficos, uma coisa terrível: o aviso inevitável da |
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consciência, o grito clandestino de haver alma." |
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"Sinto um frio de doença súbita na alma" |
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"Tinha-me levantado cedo e tardava em preparar-me para existir." |
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"Era a ocasião de estar alegre. Mas pesava-me qualquer coisa, uma ânsia desconhecida, um |
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desejo sem definição, nem até reles. Tardava-me, talvez, a sensação de estar vivo. E quanto |
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me debrucei da janela altíssima, sobre a rua para onde olhei sem vê-la, senti-me de repente |
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um daqueles trapos húmidos de limpar coisas sujas, que se levam para a janela para secar, |
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mas se esquecem, enrodilhados, no parapeito que mancham lentamentamente." |
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"São as pessoas que habitualmente me cercam, são as almas que, desconhecendo-me, todos os |
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dias me conhecem com o convívio e a fala, que me põem na garganta do espírito o nó salivar |
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do desgosto físico. É a sordidez monótona da sua vida, paralela à exterioridade da minha, é a |
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sua consciência íntima de serem meus semelhantes, que me veste o traje de forçado, me dá a |
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cela de penitenciário, me faz apócrifo e mendigo." |
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"Pesa-me, realmente me pesa, como uma condenação a conhecer, esta noção repentina da |
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minha individualidade verdadeira, dessa que andou sempre viajando sonolentamente entre o |
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que sente e o que vê." |
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"E, por fim, tenho sono, porque, não sei porquê, acho que o sentido é dormir." |
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"A humanidade tem medo da morte, mas incertamente." |
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"E não sei o que sinto, não sei o que quero sentir, não sei o que penso nem o que sou." |
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"Verifico que, tantas vezes alegre, tantas vezes contente, estou sempre triste." |
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"Não vejo, sem pensar." |
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"Não há sossego - e, ai de mim!, nem sequer há desejo de o ter." |
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"Assim como lavamos o corpo deveríamos lavar o destino, mudar de vida como mudamos de |
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roupa - não para salvar a vida, como comemos e dormimos, mas por aquele respeito alheio |
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por nós mesmos, a que propriamente chamamos asseio. |
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Há muitos em quem o desasseio não é uma disposição da vontade, mas um encolher de |
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ombros da inteligência. E há muitos em quem o apagado e o mesmo da vida não é uma forma |
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de a quererem, ou uma natural conformação com o não tê-la querido, mas um apagamento da |
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inteligência de si mesmos, uma ironia automática do conhecimento. |
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Há porcos que repugnam a sua própria porcaria, mas se não afastam dela, por aquele mesmo |
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extremo de um sentimento , pelo qual o apavorado se não afasta do perigo. Há porcos de |
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destino, como eu, que se não afastam da banalidade quotidiana por essa mesma atracção da |
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própria impotência. São aves fascinadas pela ausência de serpente; moscas que pairam nos |
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troncos sem ver nada, até chegarem ao alcance viscoso da língua do camaleão. |
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Assim passeio lentamente a minha inconsciência consciente, no meu tronco de árvore do |
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usual. Assim passei o meu destino que anda, pois eu não ando; o meu tempo que segue, pois eu |
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não sigo." |
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"Releio passivamente, recebendo o que sinto como uma inspiração e um livramento, aquelas |
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frases simples de Caeiro, na referência natural do que resulta do pequeno tamanho de sua |
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aldeia. Dali, diz ele, porque é pequena, pode ver-se mais do mundo do que da cidade; e por |
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isso a aldeia é maior que a cidade... |
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"Porque eu sou do tamanho do que vejo |
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E não do tamanho da minha altura." |
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Frases como estas, que parecem crescer sem vontade que as houvesse dito, limpam-me de toda |
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a metafísica que espontaneamente acrescento à vida. Depois de as ler, chego à minha janela |
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sobre a rua estreita, olho o grande céu e os muitos astros, e sou livre com um esplendor alado |
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cuja vibração me estremece no corpo todo. |
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"Sou do tamanho do que vejo!"Cada vez que penso esta frase com toda a atenção dos meus |
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nervos, ela me parece mais destinada a reconstruir consteladamente o universo. "Sou do |
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tamanho do que vejo!" Que grande posse mental vai desde o poço das emoções profundas até |
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às altas estrelas que se reflectem nele e, assim, em certo modo, ali estão. |
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E já agora, consciente de saber ver, olho a vasta metafísica objectiva dos céus todos com uma |
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segurança que me dá vontade de morrer cantando. "Sou do tamanho do que vejo!" E o vago |
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luar, inteiramente meu, começa a estragar de vago o azul meio-negro do horizonte. |
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Tenho vontade de erguer os braços e gritar coisas de uma selvageria ignorada, de dizer |
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palavras aos mistérios altos, de afirmar uma nova personalidade larga aos grandes espaços da |
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matéria vazia. |
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Mas recolho-me e abrando-me. "Sou do tamanho do que vejo!" E a frase fica sendo-me a |
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alma inteira, encosto a ela todas as emoções que sinto, e sobre mim, por dentro, como sobre a |
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cidade por fora, cai a paz indecifrável do luar duro que começa largo com o anoitecer." |
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"A solidão desola-me; a companhia oprime-me. A presença de outra pessoa descaminha-me |
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os pensamentos; sonho a sua presença com uma distracção especial, que toda a minha atenção |
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analítica não consegue definir." |
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"O isolamento talhou-me à sua imagem e semelhança. A presença de outra pesoa - de uma só |
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pessoa que seja - atrasa-me imediatamente o pensamento, e, ao passo que no homem normal o |
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contacto com outrem é um estímulo para a expressão e para o dito, em mim esse contacto é |
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um contra-estímulo." |
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"Os meus hábitos são da solidão, que não dos homens"; não sei se foi Rousseau, se Senancour, |
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o que disse isto. Mas foi qualquer espírito da minha espécie - não poderia talvez dizer da |
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minha raça." |
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"O vento levantou-se...Primeiro era como a voz de um vácuo...um soprar no espaço para |
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dentro de um buraco, uma falta no silêncio do ar. Depois ergueu-se um soluço, um soluço do |
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fundo do mundo, o sentir-se que tremiam vidraças e que era realmente vento. Depois soou |
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mais alto, urro surdo, um chocar sem ser ante o aumentar nocturno, um ranger de coisas, um |
|||
cair de bocados, um átomo de fim do mundo." |
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"Os Deuses, se são justos em sua injustiça, nos conservem os sonhos ainda quando sejam |
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impossíveis, e nos dêem bons sonhos, ainda que sejam baixos." |
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"Cada um tem a sua vaidade, e a vaidade de cada um é o seu esquecimento de que há outros |
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com alma igual. A minha vaidade são algumas páginas, uns trechos, certas dúvidas... |
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Releio?Menti! Não ouso reler. Não posso reler. De que me serve reler? O que está ali é outro. |
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Já não compreendo nada..." |
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"Ah, mas como eu desejaria lançar ao menos numa alma alguma coisa de veneno, de |
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desassossego e de inquietação. Isso consolarme-ia um pouco da nulidade de acção em que |
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vivo. Perverter seria o fim da minha vida. Mas vibra alguma alma com as minhas palavras? |
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Ouve-as alguém que não só eu? |
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"Dói-me qualquer sentimento que desconheço; falta-me qualquer argumento não sei sobre o |
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quê; não tenho vontade nos nervos. Estou triste abaixo da consciência. E escrevo estas linhas, |
|||
realmente mal-notadas, não para dizer isto, nem para dizer qualquer coisa, mas para dar um |
|||
trabalho à minha desatenção. Vou enchendo lentamente, a traços moles de lápis rombo - que |
|||
não tenho sentimentalidade para aparar - , o papel branco de embrulho de sanduíches, que |
|||
me forneceram no café, porque eu não precisava de melhor e qualquer servia, desde que fosse |
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branco. E dou-me por satisfeito." |
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"A consciência da inconsciência da vida é o mais antigo imposto à inteligência." |
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"Aquilo que, creio, produz em mim o sentimento profundo, em que vivo, de incongruência |
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com os outros, é que a maioria pensa com a sensibilidade, e eu sinto com o pensamento. |
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Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver. Para mim, pensar é viver e sentir |
|||
não é mais que o alimento de pensar." |
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"Correr riscos reais, além de me apavorar, não é por medo que eu sinta excessivamente perturba-me a perfeita atenção às minhas sensações, o que me incomoda e despersonaliza. |
|||
Nunca vou para onde há risco. Tenho medo a tédio dos perigos." |
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"Leve, como uma coisa que começasse, a maresia da brisa pairou sobre o Tejo e espalhou-se |
|||
sujamente pelos princípios da Baixa. Nauseava frescamente, num torpor frio de mar morto. |
|||
Senti a vida no estômago, e o olfacto tornou-se-me uma coisa por detrás dos olhos. Altas, |
|||
pousavam em nada nuvens ralas, rolos, num cinzento a desmoronar-se para branco falso. A |
|||
atmosfera era de uma ameaça de céu cobarde, como a de uma trovoada inaudível, feita de ar |
|||
somente. |
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Havia estagnação no próprio voo das gaivotas; pareciam coisas mais leves que o ar, deixadas |
|||
nele por alguém. Nada abafava. A tarde caía num desassossego nosso; o ar refrescava |
|||
intermitentemente. |
|||
Pobres das esperanças que tenho tido, saídas da vida que tenho tido de ter! São como esta |
|||
hora e este ar, névoas sem névoa, alinhavos rotos de tormenta falsa. Tenho vontade de gritar, |
|||
para acabar com a paisagem e a meditação. Mas há maresia no meu propósito, e a baixa-mar |
|||
em mim deixou descoberto o negrume lodoso que está ali fora e não vejo senão pelo cheiro. |
|||
Tanta inconsequência em querer bastar-me! Tanta consciência sarcástica das sensações |
|||
supostas! Tanto enredo da alma com as sensações, dos pensamentos com o ar e o rio, para |
|||
dizer que me dói a vida no olfacto e na consciência, para não saber dizer, como na frase |
|||
simples e ampla do livro de Job, "Minha alma está cansada de minha vida!" |
|||
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INTERVALO DOLOROSO |
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"Tudo me cansa, mesmo o que não me cansa. A minha alegria é tão dolorosa como a minha |
|||
dor. |
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Quem me dera ser uma criança pondo barcos de papel num tanque de quinta, com um dossel |
|||
rústico de entrelaçamentos de parreira pondo xadrezes de luz e sombra verde nos reflexos |
|||
sombrios da pouca água. |
|||
Entre mim e a vida há um vidro ténue. Por mais nitidamente que eu veja e compreenda a |
|||
vida, eu não posso lhe tocar. |
|||
Raciocinar a minha tristeza? Para quê, se o raciocínio é um esforço? e quem é triste não pode |
|||
esforçar-se. Nem mesmo abdico daqueles gestos banais da vida de que eu tanto quereria |
|||
abdicar. Abdicar é um esforço, e eu não possuo o de alma com que esforçar-me. |
|||
Quantas vezes me punge o não ser o manobrante daquele carro, o cocheiro daquele trem! |
|||
qualquer banal Outro suposto cuja vida, por não ser minha, deliciosamente se me penetra de |
|||
eu querê-la e se me penetra até de alheia! |
|||
Eu não teria o horror à vida como a uma Coisa. A noção da vida como um Todo não me |
|||
esmagaria os ombros do pensamento. |
|||
Os meus sonhos são um refúgio estúpido, como um guarda chuva contra um raio. |
|||
Sou tão inerte, tão pobrezinho, tão falho de gestos e actos. |
|||
Por mais que por mim me embrenhe, todos os atalhos do meu sonho vão dar a clareiras de |
|||
angústia. |
|||
Mesmo eu , o que sonha tanto, tenho intervalos em que o sonho me foge. Então as coisas |
|||
aparecem-me nítidas. Esvai-se a névoa de quem me cerco. E todas as arestas visíveis ferem a |
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carne da minha alma. Todas as durezas olhadas me magoam o conhêce-las durezas. Todos os |
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pesos visíveis de objectos me pesam por a alma dentro. |
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A minha vida é como se me batessem com ela." |
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"Meditei hoje, num intervalo de sentir, na forma de prosa de que uso. Em verdade, como |
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escrevo? Tive, como muitos têm tido, a vontade pervertida de querer ter um sistema e uma |
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norma. É certo que escrevi antes da norma e do sistema; nisso, porém, não sou diferente dos |
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outros. |
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Analisando-me à tarde, descubro que o meu sistemade estilo assenta em dois princípios, e |
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imediatamente, e à boa maneira dos bons clássicos, erijo esses dois princípios em fundamentos |
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gerais de todo estilo: dizer o que se sente exactamente como se sente - claramente, se é claro; |
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obscuramente, se é obscuro; confusamente, se é confuso - ; compreender que a gramática é |
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um instrumento, e não uma lei." |
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"Fazer qualquer coisa completa, inteira, seja boa ou seja má - e, se nunca é inteiramente boa, |
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muitas vezes não é inteiramente má - , sim, fazer uma coisa completa causa-me, talvez, mais |
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inveja do que outro qualquer sentimento. É como um filho: é imperfeita como todo o ente |
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humano, mas é nossa como os filhos são. |
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E eu, cujo espírito de crítica própria me não permite senão que veja os defeitos, as falhas, eu, |
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que não ouso escrever mais que trechos, bocados, excertos do inexistente, eu mesmo, no pouco |
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que escrevo, sou imperfeito também. Mais valeram pois, ou a obra completa, ainda que má, |
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que em todo o caso é obra; ou a ausência de palavras, o silêncio inteiro da alma que se |
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reconhece incapa de agir." |
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"Sumir-me-ei entra a névoa, como um estrangeiro a tudo, ilha humana desprendida do sonho |
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do mar e navio com ser supérfluo à tona de tudo." |
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"Na falta de saber, escrevo; e uso os grandes termos da Verdade alheios conforme as |
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exigências da emoção. Se a emoção é clara e fatal, falo, naturalmente, dos deuses e assim a |
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enquadro numa consciência do mundo múltiplo. Se a emoção é profunda, falo, naturalmente, |
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de Deus, e assim a engasto numa consciência una. Se a emoção é um pensamento, falo, |
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naturalmente, do Destino, e assim a encosto à parede." |
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"Quando ponho de parte os meus artifícios e arrumo a um canto, com um cuidado cheio de |
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carinho - com vontade de lhes dar beijos - os meus brinquedos, as palavras, as imagens, as |
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frases - fico tão pequeno e inofensivo, tão só num quarto tão grande e tão triste, tão |
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profundamente triste!... |
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Afinal eu quem sou, quando não brinco? Um pobre órfão abandonado nas ruas das sensações, |
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tiritando de frio às esquinas da Realidade, tendo que dormir nos degraus da Tristeza e comer |
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o pão dado da Fantasia. De meu pai sei o nome; disseram-me que se chamava Deus, mas o |
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nome não me dá idéia de nada. Ás vezes, na noite, quando me sinto só, chamo por ele e choro, |
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e faço-me uma idéia dele a que possa amar...Mas depois penso que o não conheço, que talvez |
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ele não seja assim, que talvez seja nunca esse o pai da minha alma... |
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Quando acabará isso tudo, estas ruas onde arrasto a minha miséria, e estes degraus onde |
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encolho o meu frio e sinto as mãos da noite por entre os meus farrapos? Se um dia Deus me |
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viesse buscar e me levasse para a sua casa e me desse calor e afeição...Ás vezes penso isto e |
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choro com alegria a pensar que o posso pensar...Mas o vento arrasta-se pela rua fora e as |
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folhas caem no passeio...Ergo os olhos e vejo as estrelas que não têm sentido nenhum...E de |
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tudo isto fico apenas eu, uma pobre criança abandonada, que nenhum Amor quis par seu |
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filho adoptivo, nem nehuma Amizade para seu companheiro de brinquedos. |
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Tenho frio de mais. Estou tão cansado no meu abandono. Vai buscar, ó Vento, a minha Mãe. |
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Leva-me na Noite para a casa que não conheci...Torna a dar-me, ó Silêncio imenso, a minha |
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ama e o meu berço e a minha canção com que eu dormia..." |
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"O sonhador não é superior ao homem activo porque o sonho seja superior à realidade. A |
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superioridade do sonhador consiste em que sonhar é muito mais prático que viver, e em que o |
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sonhador extrai da vidaum prazer muito mais vasto e muito mais variado do que o homem de |
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acção. Em melhores e muito mais directas palavras, o sonhador é que é o homem de acção. |
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Sendo a vida essencialmente um estado mental, e tudo, quanto fazemos ou pensamos, válido |
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para nós na proporção em que o pensamos válido, depende de nós a valorização. O sonhador |
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é um emissor de notas, e as notas que emite correm na cidade do seu espírito do mesmo modo |
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que as da realidade." |
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"Ah, não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram!" |
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"Em mim foi sempre menor a intensidade das sensações que a intensidade da consciência |
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delas. Sofri sempre mais com a consciência de estar sofrendo que com o sofrimento de que |
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tinha consciência. |
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A vida das minhas emoções mudou-se, de origem, para as salas do pensamento, e ali vivi |
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sempre mais amplamente o conhecimento emotivo da vida. |
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E como o pensamento, quando alberga a emoção, se torna mais exigente que ela, o regime de |
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consciência, em que passei a vive o que sentia, tornava-se mais quotidiana, mais epidérmica, |
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tornava-se mais titilante a maneira como sentia." |
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"Somos quem não somos e a vida é pronta e triste." |
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"Quantos somos! Quantos nos enganamos! Que mares soam em nós, na noite de sermos, pelas |
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praias que nos sentimos nos alagamentos da emoção! Aquilo que se perdeu, aquilo que se |
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deveria ter querido, aquilo que se obteve e satisfez por erro, o que amamamos e perdemos e, |
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depois de perder, vimos, amando por tê-lo perdido, que o não havíamos amado; o que |
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julgávamos que pensávamos quando sentíamos; o que era uma memória e críamos que era |
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uma emoção; e o mar todo, vindo lá, rumoroso e fresco, do grande fundo de toda a noite, a |
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estuar fino na praia, no decurso nocturno do meu passeio à beira-mar ... |
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Quem sabe sequer o que pensa ou o que deseja? Quem sabe o que é para si-mesmo?" |
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"Tão supérfluo tudo! Nós e o mundo e o mistério de ambos." |
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" O pensamento colectivo é estupído porque é colectivo: nada passa as barreiras do colectivo |
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sem deixar nelas, como real de água, a maior parte da inteligência que traga consigo. |
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Na mocidade somos dois: há em nós a coexistência da nossa inteligência própria, que pode ser |
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grande, e a da estupidez da nossa inexperiência, que forma uma segunda inteligência inferior. |
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Só quando chegamos a outra idade se dá em nós a unificação. Daí a acção sempre fruste da |
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juventude - devida, não à sua inexperiência, mas à sua não-unidade." |
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" Sou daquelas almas que as mulheres dizem que amam, e nunca reconhecem quando |
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encontram, daquelas que, se elas as reconhecessem, mesmo assim não as reconheceriam. Sofro |
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a delicadeza dos meus sentimentos com uma atenção desdenhosa. Tenho todas as qualidades, |
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pelas quais são admirados os poeta românticos, mesmo aquela falta dessas qualidades, pela |
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qual se é realmente poeta romântico. Encontro-me descrito (em parte) em vários romances |
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como protagonista de vários enredos; mas o essencial da minha vida, como da minha alma, é |
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não ser nunca protagonista." |
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"O cais, a tarde, a maresia entram todos, e entram juntos, na composição da minha angústia. |
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As flautas dos pastores impossíveis não são mais suaves que o não haver aqui flautas e isso |
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lembrar-mas." |
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" Cada qual tem o seu álcool. Tenho álcool bastante em existir. Bêbado de me sentir, vagueio |
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e ando certo. Se são horas, recolho ao escritório como qualquer outro. Se não são horas, vou |
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até o rio fitar o rio, como qualquer outro. Sou igual. E por detrás de isso, céu meu, constelome às escondidas e tenho o meu infinito." |
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" Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É a um |
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conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos. |
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Isto é verdade em toda a escala do amor. No amos sexual buscamos um prazer nosso por |
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intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso |
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dado por intermédio de uma ideia nossa. O onanista é objecto, mas, em exacta verdade, o |
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onanista é a perfeita expressão lógica do amoroso. É o único que não disfarça nem se engana. |
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As relações entre uma alma e outra, através de coisas tão incertas e divergentes como as |
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palavras comuns e os gestos que se empreendem, são matéria de estranha complexidade. No |
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próprio ato em que nos conhecemos, nos desconhecemos. Dizem os dois «amo-te» ou pensamno e sentem-no por troca, e cada um quer dizer uma ideia diferente, uma vida diferente, até, |
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porventura, uma cor ou um aroma diferente, na soma abstracta de impressões que constitui a |
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actividade da alma." |
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"É de compreender que sobretudo nos cansamos. Viver é não pensar." |
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"Para o esteta, as tragédias são coisas interessantes de observar, mas incomodas de sofrer. O |
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próprio cultivo da imaginação é prejudicado pelo da vida. Reina quem não está entre os |
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vulgares. |
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Afinal, isto bem me contentaria se eu conseguissepersuadir-me que esta teoria não é o que é, |
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um complexo barulho que faço aos ouvidos da minha inteligência, quase para ela não |
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perceber que, no fundo, não há senão a minha timidez, a minha incompetência para a vida." |
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ESTÉTICA DO ARTIFÍCIO |
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" A vida prejudica a expressão da vida. Se eu tivesse um grande amor nunca o poderia contar. |
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Eu próprio não sei se este eu, que vos exponho, por estas coleantes páginas fora, realmente |
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existe ou é apenas um conceito estético e falso que fiz de mim próprio. Sim, é assim. Vivo-me |
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esteticamente em outro. Esculpi a minha vida como a uma estátua de matéria alheia ao meu |
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ser. Às vezes não me reconheço, tão exterior me pus a mim, e tão de modo puramente artístico |
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empreguei a minha consciência de mim próprio. Quem sou por detrás desta irrealidade? Não |
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sei. Devo ser alguém. E se não busco viver, agir, sentir, é - crede-me bem - para não perturbar |
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as linhas feitas da minha personalidade suposta. Quero ser tal qual quis ser e não sou. Se eu |
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cedesse destruir-me-ia. Quero ser uma obra de arte, da alma pelo menos, já que do corpo não |
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posso ser. Por isso me esculpi em calma e alheamento e me pus em estufa, longe dos ares |
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frescos e das luzes francas - onde a minha artificialidade, flor absurda, floresça em afastada |
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beleza." |
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"Assim organizar a nossa vida que ela seja para os outros um mistério, que quem melhor nos |
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conheça, apenas nos desconheça de mais perto que os outros. Eu assim talhei a minha vida, |
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quase que sem pensar nisso, mas tanta arte institiva pus em fazê-lo que para mim próprio me |
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tornei uma não de todo clara e nítida individualidade minha." |
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"A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida." |
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"A maioria da gente enferma de não saber dizer o que vê e o que pensa. Dizem que não há |
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nada mais difícil do que definir em palavras uma espiral: é preciso, dizem, fazer no ar, com a |
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mão sem literatura, o gesto, ascendemente enrolado em ordem, com que aquela figura |
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abstracta das molas ou de certas escadas se manifesta aos olhos. Mas, desde que nos |
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lembremos que dizer é renovar, definiremos sem dificuldade uma espiral: é um círculo que |
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sobe sem nunca conseguir acabar-se. A maioria da gente, sei bem, não ousaria definir assim, |
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porque supõe que definir é dizer o que os outros querem que se diga, que não o que é preciso |
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dizer para definir. Direi melhor: uma espiral é um circulo virtual que se desdobra a subir sem |
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nunca se realizar: Mas não, a definição ainda é abstracta. Buscarei o concreto, e tudo será |
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visto: uma espiral é uma cobra sem cobra enroscada verticalmente em coisa nenhuma. |
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Toda a literatura consiste num esforço para tornar a vida real. Como todos sabem, ainda |
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quando agem sem saber, a vida é absolutamente irreal, na sua realidade directa; os campos, |
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as cidades, as ideias, sao coisas absolutamente fictícias, filhas da nossa complexa sensação de |
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nós mesmos. Sâo intransmissíveis todas as impressões salvo se as tornarmos literárias. As |
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crianças são muito literárias porque dizem como sentem e não como deve sentir quem sente |
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segundo outra pessoa. Uma criança, que uma vez ouvi, disse, querendo dizer que estava à |
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beira de chorar, não «Tenho vontade de chorar», que é como diria um adulto, isto é, um |
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estúpido, senão isto: «Tenho vontade de lágrimas». E esta frase, absolutamente literária, a |
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ponto de que seria afectada num poeta célebre, se ele a pudesse dizer, refere absolutamente a |
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presença quente das lágrimas a romper das pálpebras conscientes da amargura líquida. |
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«Tenho vontade de lágrimas»! Aquela criança pequena definiu bem a sua espiral." |
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" Sinto perante o rebaixamento dos outros não uma dor, mas um desconforto estético e uma |
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irritação sinuosa. Não é por bondade que isto acontece, mas sim porque quem se torna |
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ridículo não é só para mim que se torna ridículo, mas para os outros também, e irrita-me que |
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alguém esteja sendo ridículo para os outros, dói-me que qualquer animal da espécie humana |
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ria à custa de outro, quando não tem direito de o fazer. De os outros se rirem à minha custa |
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não me importo, porque de mim para fora há um desprezo profícuo e blindado. |
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Mais terrível de que qualquer muro , pus grades altíssimas a demarcas o jardim do meu ser, |
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de modo que, vendo perfeitamente os outros, perfeitissimamente eu os excluo e mantenho |
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outros. |
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Escolher modos de não agir foi semrpre a atenção e o escrúpulo da minha vida. |
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Não me submeto ao estado nem aos homens; resisto inertemente. O estado só me pode querer |
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para uma açcão qualquer. Não agindo eu, ele nada de mim consegue. Hoje já não se mata, e |
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ele apenas me pode incomodar; se isso acontecer, terei que blindar mais o meu espírito e viver |
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mais longe adentro dos meus sonhos. Mas isso não aconteceu nunca. Nunca me apoquentou o |
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estado. Creio que a sorte soube providenciar." |
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" Tenho da vida uma náusea vaga, e o movimento acentua-ma." |
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"A vida, para mim, é uma sonolência que não chega ao cérebro. Esse conservo eu livre para |
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que nele possa ser triste." |
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"Que me pode dar a China que a minha alma me não tenha já dado? E, se a minha alma mo |
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não pode dar, como mo dará a China, se é com a minha alma que verei a China, se a vir? |
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Poderei ir buscar riqueza ao Oriente, mas não riqueza de alma, porque a riqueza de minha |
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alma sou eu, e eu estou onde estou, sem Oriente ou com ele." |
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"Somos todos míopes, excepto para dentro. Só o sonho vê com o olhar." |
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"Transeuntes eternos por nós mesmos, não há paisagem senão o que somos. Nada possuímos, |
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porque nem a nós possuímos. Nada temos porque nada somos. Que mãos estenderei para que |
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universo? O universo não é meu: sou eu." |
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"A ânsia de compreender, que para tantas almas nobres substitui a de agir, pertence à esfera |
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da sensibilidade. Substitui a Inteligência à energia, quebrar o elo entre a vontade e a emoção, |
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despindo de interesse todos os gestos da vida material, eis o que, conseguido, vale mais que a |
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vida, tão difícil de possuir completa, e tão triste de possuir parcial. |
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Diziam os argonautas que navegar é preciso, mas que viver não é preciso. Argonautas, nós, da |
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sensibilidade doentia, digamos que sentir é preciso, mas que não é preciso viver." |
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"Arcaram os vossos argonautas com monstros e medos. Também, na viagem do meu |
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pensamento, tive monstros e medos com que arcar. No caminho para o abismo abstracto, que |
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está no fundo das coisas, há horrores, que passar, que os homens do mundo não imaginam e |
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medos que ter que a experiência humana não conhece; é mais humano talvez o cabo para o |
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lugar indefinido do mar comum do que a senda abstracta para o vácuo do mundo." |
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"Não me indigno, porque a indignação é para os fortes; não me resigno, porque a resignação é |
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para os nobres; não me calo, porque o silêncio é para os grandes. E eu não sou forte, nem |
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nobre, nem grande. Sofro e sonho. Queixo-me porque sou fraco e, porque sou artista, |
|||
entretenho-me a tecer musicais as minhas queixas e a arranjar meus sonhos conforme me |
|||
parece melhor a minha ideia de os achar belos. |
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Só lamento o não ser criança, para que pudesse crer nos meus sonhos." |
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"Eu não sou pessimista, sou triste." |
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"Omnia fui, nihil expedit - fui tudo, nada vale a pena." |
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"Para mim, se considero, pestes, tormentas, guerras, são produtos da mesma força cega, |
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operando uma vez através de micróbios inconscientes, outra vez através de raios e águas |
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inconscientes, outra vez através de homens inconscientes." |
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"Há uma erudição do conhecimento, que é propriamente o que se chama erudição, e há uma |
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erudição do entendimento, que é o que se chama cultura. Mas há também uma erudição da |
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sensibilidade." |
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"Condillac começa o seu livro célebre, «Por mais alto que subamos e mais baixo que |
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desçamos, nunca saímos das nossas sensações». Nunca desembarcamos de nós. Nunca |
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chegamos a outrem, senão outrando-nos pela imaginação sensível de nós mesmos. As |
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verdadeiras paisagens são as que nós mesmos criamos, porque assim, sendo deuses delas, as |
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vemos como elas verdadeiramente são, que é como foram criadas. Não é nenhuma das sete |
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partidas do mundo aquela que me interessa e posso verdadeiramente ver; a oitava é a que |
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percorro e é a minha." |
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"Há muito tempo que não escrevo. Têm passado meses sem que viva, e vou durando, entre o |
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escritório e a fisiologia, numa estagnação íntima de pensar e de sentir. Isto, infelizmente, não |
|||
repousa: no apodrecimento há fermentação." |
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"É domingo e não tenho que fazer. Nem sonhar me apetece, de tão bem que está o dia. Gozo-o |
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com uma sinceridade de sentidos a que a inteligência se abandona. Passeio como um caixeiro |
|||
liberto. Sinto-me velho, só para ter o prazer de me sentir rejuvenescer." |
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"O homem perfeito do pagão era a perfeição do homem que há; o homem perfeito do cristão a |
|||
perfeição do homem que não há; o homem perfeito do budista a perfeição de não haver |
|||
homem." |
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"Tudo quanto o homem expõe ou exprime é uma nota à margem de um texto apagado de |
|||
todo. Mais ou menos, pelo sentido da nota, tiramos o sentido de que havia de ser o do texto; |
|||
mas fica sempre uma dúvida, e os sentidos possíveis são muitos." |
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"Não é fácil distinguir o homem dos animais, não há critério seguro para distinguir o homem |
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dos animais. As vidas humanas decorrem da mesma íntima inconsciência que as vidas dos |
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animais. As mesmas leis profundas, que regem de fora os instintos dos animais, regem, |
|||
também, de fora, a inteligência do homem, que parece não ser mais que um instinto em |
|||
formação, tão inconsciente como todo instinto, menos perfeito porque ainda não formado. |
|||
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«Tudo vem da sem-razão», diz-se na Antologia Grega." |
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"A Ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente. E a ironia atravessa |
|||
dois estádios: o estádio marcado por Sócrates, quando disse «sei só que nada sei», e o estádio |
|||
marcado por Sanches, quando disse «nem sei se nada sei». O primeiro passo chega àquele |
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ponto em que duvidamos de nós dogmaticamente, e todo o homem superior o dá e atinge. O |
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segundo passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós e da nossa dúvida, e poucos |
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homens o têm atingido na curta extensão já tão longa do tempo que, humanidade, temos visto |
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o sol e a noite sobre a vária superfície da terra." |
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"Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de |
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perfeição deveria inibir-me de acabar; deveria inibir-me até de dar começo. Mas distraio-me |
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e faço. O que consigo é um produto, em mim, não de uma aplicação de vontade, mas de uma |
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cedência dela. Começo porque não tenho força para pensar; acabo porque não tenho alma |
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para suspender. Este livro é a minha cobardia." |
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"Escrevo demorando-me nas palavras, como por montras onde não vejo, e são meios-sentidos, |
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quase-expressões o que me fica, como cores de estofos que não vi o que são, harmonias |
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exibidas compostas de não sei que objectos. Escrevo embalando-me, como uma mãe louca a |
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um filho morto." |
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